Audiência sobre pessoas com deficiência levanta demandas e deve resultar em agenda de ações
Inclusão, acessibilidade, inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, existência de leis, mas pouca concretização de políticas públicas na prática; necessidade de formação continuada de profissionais de educação; melhoria no atendimento à saúde das pessoas com deficiência. Esses foram os principais eixos de debate da audiência pública que debateu políticas para pessoa com deficiência, realizada na última segunda-feira, 27 de fevereiro, no plenário da Câmara de Foz. O evento foi aberto pelo vereador Marcio Rosa (PSD) e conduzido pela proponente, vereadora Yasmin Hachem (MDB).
A proponente e condutora do debate, vereadora Yasmin Hachem (MDB), pontuou na abertura: “Não se trata somente de oferecer vagas de trabalho, mas pensar em mobilidade, acessibilidade, todas as pessoas precisam exercer seus direitos e deveres. Devemos pensar no direito igualitário e inclusivo. Já pararam para pensar como uma pessoa surda conseguiria se comunicar no posto de saúde, como uma pessoa cega atravessa a rua sem sinal sonoro. É preciso pensar no acesso ao lazer, cultura, em tudo isso”. A audiência lotou plenário da Casa, com diversas entidades e pessoas da sociedade civil que fizeram uso da palavra para expor suas demandas, dar sugestões e reivindicar situações pontuais que não são levadas em conta há anos.
Encaminhamento do debate
“Hoje temos alguns avanços: o dinheiro para central de libras; a minuta do fundo da pessoa com deficiência, que deve ser aprovado até abril; temos o início de uma tradução de libras aqui na Câmara, mas ainda temos muito a avançar. Vamos pontuar todas as demandas e elaborar uma agenda de ações para levar ao Executivo e o que nos couber no âmbito do Legislativo vamos tentar solucionar”, destacou a vereadora Yasmin Hachem (MDB).
Participantes
Participaram também: Kellyn Trento, secretária de direitos humanos; Maria Justina, secretária da educação; Robson Lima, Diretor Superintendente do Foztrans; Patrícia Silva, presidente da comissão dos direitos da pessoa com deficiência e idosa da OAB de Foz; Ivan Lincon, representando secretaria de planejamento e captação de recursos; Leonardo Correia Lugon, presidente do conselho municipal dos direitos da pessoa com deficiência; Roseli Sobral, representando Unioeste; Gonçalo Maciel, presidente da Adevifoz – Associação de deficientes visuais de Foz do Iguaçu; Larissa Moraes, presidente da Aspas- Associação Solidária às pessoas autistas; Wallace do Carmo dos Santos, presidente da Associação Assim que eu vejo; Luciana Soares, presidente da Ampla, Associação de mães, pais e quem luta por autistas; Orceni Matos, diretor da Apasfi, Associação de pais e amigos dos surdos de Foz; Renata Carvalho, representando a secretaria da saúde; And´re dos Santos, representando a secretaria municipal de assistência social; Rosineide da Silva, representando ACDD, Associação Cristã de deficientes físicos de Foz; Edson Duarte, presidente da AssuFoz, Associação dos surdos de Foz e Aline Milanês, mãe de autista e advogada. Também marcaram presença os vereadores: Adnan El Sayed (PSD), Anice Gazzaoui (PL) e João Morales (União).
Relatos sobre falta de acessibilidade no espaço urbano, falta de concretude de leis, dificuldade, dificuldades de atendimentos para crianças com TEA
Com a presença massiva de interessados no assunto e resolver demandas represadas do público, diversos expositores do tema fizeram relatos a partir de experiências de vida, estudos, estáticas sobre a situação dos deficientes no Brasil e em Foz.
Leonardo Lugon, do Conselho da pessoa com deficiência, falou como expositor e trouxe um histórico das pessoas com deficiência, estatísticas, importância do diagnóstico precoce de crianças, falou do fundo da pessoa com deficiência e fila de atendimentos às crianças com TEA. “Nós como sociedade devemos fazer um mutirão e tentar buscar soluções pra esse problema que é atual. Minha sugestão é que possamos criar grupos de trabalho”.
Patrícia Silva, presidente da comissão dos direitos da pessoa com deficiência e idosa da ordem dos advogados do brasil em Foz, comentou sobre vários pontos da cidade com falta de acessibilidade às pessoas com deficiência, inclusive em pontos turísticos, “a deficiência não incapacita o indivíduo, o que faz isso são os obstáculos que a sociedade impõe. As principais demandas são: elevadores, vagas de estacionamento, rampas de acesso”.
Orceni Matos, da Apasfi, questionou: “Até hoje falta respeito aos surdos, são 20 anos de legislação e nada até agora. No Brasil tem muita limitação, aqui em Foz as pessoas não aceitam os surdos. Os empresários da cidade são muito fechados, o surdo sempre precisa estar lutando. Falta acessibilidade nos hotéis por exemplo, se pega fogo, como vão me avisar que preciso sair correndo?”.
Wallace dos Santos, Associação é Assim que eu vejo, ponderou: “perdi minha visão aos quatro anos de idade. No meu caso, deficiente visual, morando há um ano em Foz, tenho tido muita dificuldade com relação ao piso tátil: eu ando e bato na placa, caio no buraco. Sou cego há 43 anos, não me adaptei ao sistema em braile, porque acho que é linguagem apenas de cego para cego”.
Aline Milanez, advogada e mãe de criança com TEA, “atendi uma criança de quatro anos que não fala por falta de terapia. Meu filho está evoluindo, fazendo terapias. A médica do meu filho até no CER IV e está com uma fila de dois anos. É preciso ter olhar mais atento também para a educação. É triste ver mães perecendo, perdendo seus empregos, não podendo ter uma vida digna, para cuidar dos seus filhos”.
Manifestações tribuna livre
Joran Ribeiro, autista e secretário da Aspas, disse: “vocês não sabem o quanto foi difícil pra mim, estudar. Eu tenho de ler 30 vezes para entender uma coisa, mas leio 35 porque não quero esquecer”.
Leonardo Pimentel destacou: “a deficiência não incapacita o indivíduo. O que pesa em Foz é a acessibilidade de vias públicas, não temos semáforos sonoros”.
Andrea Mazacotte pontuou: “Temos tristeza porque os surdos de Foz estão abandonando a cidade. Aqui faltam muitas pessoas que possam se comunicar com surdos. A sociedade nos dá sempre uma exclusão e tristeza”.
Antonella Lima, professora, falou sobre educação e necessidade de formação continuada dos professores: “peço que os vereadores visitem as unidades escolares de Foz, ouçam a demanda das professoras que estão adoecendo. Nós, professoras, não estamos conseguindo dar o atendimento que os filhos de vocês merecem, que é o melhor”.
Ana Paula Araújo, professora da Unila, falou sobre educação inclusiva e desafios das pessoas com síndrome de down no município: “a política do município de Foz tem estimulado avaliação em larga escala como critério de concorrência entre escolas e vamos ter um público alvo que sofre com as consequências. O número de reprovações incluindo as pessoas com deficiência intelectual aumenta para que a gente tenha uma limpeza de quem vai fazer as provas de avaliação, como IDEB, por exemplo”.